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Crítica ao Naturalismo e Teleologia na Fenomenologia de Husserl



Um olhar sobre o caminho traçado por Edmund Husserl na primeira metade do século XX permite-nos notar o quão relevante se torna a crítica do autor à doutrina naturalista (para a qual pensar o mundo consiste em pensá-lo tão somente como uma realidade de fatos naturais), seja nas origens da fenomenologia (no âmbito dos debates sobre a fundamentação da Lógica), seja no período tardio (no qual se intensificam as reflexões sobre a crise da Europa). Se num primeiro momento, ainda nas Investigações Lógicas (1900), bem como nas lições do período de Göttingen (1906/1907), o esforço husserliano concentra-se, com a referida crítica, em denunciar os contrassensos teoréticos inerentes à aceitação da doutrina naturalista (assumida como uma espécie de “solo” para a fundamentação das ciências positivas), já a partir da década de 20 e, sobretudo, no período dos anos 30, tratar-se-á de denunciar os perigos de tais contrassensos para a formação da mentalidade do homem europeu. Em tal período, Husserl é levado a apontar o poder de degeneração dos preconceitos naturalistas assumidos pela humanidade europeia no Entre Guerras, bem como o que abriria o caminho para remediar o adoecimento espiritual de tal humanidade. Husserl não hesita, na conferência de Viena (1935), em convocar o homem europeu a reviver o que foi esquecido, aspirando ao renascimento de uma “racionalidade efetiva” que, ao triunfar sobre o naturalismo, uma vez mais, uniria esta mesma humanidade, regenerando-a, ao reconduzi-la, através do ideal da razão filosófica, ao seu solo espiritual originário. Aos olhos de Husserl, tal ideal se tornou “nativo” à Europa, assumindo uma função diretriz na evolução espiritual da humanidade europeia. E é justamente aí que nos deparamos com a ideia husserliana de uma “teleologia oculta” imanente à Europa (responsável, de acordo com Husserl, pela saúde espiritual do homem europeu). A análise de tal teleologia revela-nos a camada teleológica das ciências que, como regiões espirituais ramificadas da própria filosofia, almejariam se constituir como uma “ciência autêntica” (aspirando verdades válidas “para todos e de uma vez por todas”), além de uma camada mais originária da própria vivência intencional que, inclinada à evidenciação daquilo que intenciona, tenderia à realização da adequação entre atos intencionais significativos e seus preenchimentos intuitivos. Afinal, o cientista não quer apenas formular juízos sobre seus objetos, mas fundá-los na evidenciação das próprias coisas. Somos, então, conduzidos para uma teleologia mais originária, própria das vivências intencionais. O começo e o progresso que são inerentes a tais camadas teleológicas não seriam fortuitos, mas, segundo Husserl, fundados no aparecimento das coisas “elas mesmas”, em sua doação originária.

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O lugar reservado à experiência na fenomenologia de Husserl

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